
A gente segue na longa estrada e se depara com as altas serras entre as quais paira – serena, simples, com suas casas – o

Apresentado por Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) como aula inaugural da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em 21 de março de 1959, o
Por Tatyana Mabel (Profa. UFRN): Li Rastejo […] São várias passagens que o autor consegue construir e que atravessam a memória coletiva, fazendo desse lugar um espaço de partilha de discursos e enredos reais e, estranhamente, fabulados pelo imaginário social. […] O que fazer, então, com a figura de Loló que incendeia a narrativa de sensualidade e dispara sentidos que invernam o sertão masculino da casa de fazenda?! A cena do flagrante do olhar do menino narrador para os sinais do casal que antecediam o acasalamento é de ruptura com a memória comprometida com o enredo e de fissura com a poesia desligada da verossimilhança – uma vertigem: língua mordida ao canto da boca, o roçar das coxas ao acionar o pedal da máquina de costura, a prova de roupa pelo dono da casa… a costureira letrada tocava brasas na fazenda do coronel.
Por Wescley Gama (Poeta, escritor, Currais Novos-RN): “É de se festejar quando vemos/lemos obras que se debruçam como uma chuva grossa primeira sobre nossos costumes e nossa forma sertânica e peculiaríssima de viver. […] Assim como o crítico Harold Bloom sugere inicialmente a leitura dobrada de cabo a rabo do romance O leilão do lote 49 , lançado em 1965 por Thomas Pynchon, ao terminar de ler Rastejo senti a mesma sensação, tanto por vontade de degustar novamente a forma lírica e densa com que o autor descreve em seu romance situações, lugares, brincadeiras e costumes tanto como pelos conflitos emocionais interiores e familiares entremeados à história de luta – a nós tão comum – pela sobrevivência num Nordeste explorado e oprimido nas décadas de 70 e 80 do século XX”.
Daliana Cascudo: Por que passou por tantos lugares se era aquele o ponto? E o que viu nas passagens?
Com esta inquietação, Humberto Hermenegildo nos conduz pelo conto O barco da casa santa, narrativa literária repleta de realismo fantástico, retratando a aventura de um menino em busca de um sonho: encontrar o barco retratado em uma inscrição rupestre, na parede de uma caverna no sertão nordestino. O caminho se mostra tão rico de significados como a chegada em si. Por ele, o menino encontra vida, morte, religiosidade, superstição, esperança e angústia. Seus pensamentos e lembranças são estranhos e expressam vivências mágicas, onde o menino cresce e amadurece, nesta jornada humana que pertence a todos nós. Somos nós, que percorremos com o menino este caminho, buscando saber quem somos e qual o sentido de nossas vidas. O que é realidade e o que é sonho, o menino não sabe, mas segue obstinado em uma busca que dá sentido à sua vida e o faz descobrir quem ele é. O conto está disponível na Amazon e vale demais a leitura. Recomendo!!!
Carlos: O modo como ocorre a descrição da natureza e a caracterização das personagens suscita uma leitura prazerosa. Conto para ser lido como uma jornada em direção às fontes da natureza primitiva.
Por Auricélio Ferreira de Souza (Professor de Literatura da Universidade Regional do Cariri): “Li de uma única sentada…Uma preciosidade!!! O poético da memória é tocante… O precário das coisas físicas lembradas se enlaça ao transcendente que se ativa a partir desse ato de lembrar… É uma espécie de ato de resistência, não é? O percurso, a marcha de retorno, o rastro do bicho de volta… O rastejo (substantivo) e o rastejo como ato de, mesmo penosamente, voltar (primeira pessoa do verbo rastejar…) […] Minha origem rural… […] Enfim, gostei muito!