Em Rastejo (2017; 2025), a personagem Pedro da Costa representa um sujeito que, na nova disposição urbana da capital potiguar, Natal, em processo de crescimento social, experimenta o sentimento de deslocamento.
Um homem que rememora a vida pretérita pela ótica da maturidade desenvolvida em um presente hostil. Pedro da Costa “olha para trás” e vê a meninice, em um tempo áureo: lugar e tempo do mundo sertanejo idealizado, em parte, e cristalizado, guardado no “lugar intumescido de sangue” (o coração).
Saudade, raiva e desejo desencadeiam um processo de negação da realidade urbana em detrimento daquela vivida no campo. E chegam a comprometer a lucidez da personagem, levando a uma inaptidão para a vida moderna.
Na composição do enredo, articulam-se representações do masculino, no contexto da cultura patriarcal, com destaque para o Homem do Braz e para Edmundo da Costa (que perdeu o patrimônio da família por inépcia e dívida bancária). Em contraponto, revelam-se as personagens femininas: a avó, a mãe, as irmãs.
A nova geração das mulheres da família reconfigura, a seu modo, as múltiplas possibilidades existenciais femininas, para quem o casamento não se revelava como a única opção de vida. A liberdade sexual, a inserção no mundo trabalho e o acesso à formação acadêmica impulsionaram a potência do desejo em direção a um caminho inverso ao destino programado pelos ancestrais. O trágico final da vida da personagem Cristina, por exemplo, chegou a constranger a ordem familiar…
É a consciência do próprio Pedro da Costa que funciona como sustentáculo para a expressão do conhecimento que preenche o conjunto de memórias, que são, ao mesmo tempo, suas e da sua ancestralidade.
Rastejo, rastros, resíduos, traços, rabiscos…